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sábado, 17 de agosto de 2019

Portugal 281+ Ultramarathon


Bem vindos amigos,
á mágica Pt281+ Ultramarathon

Sentem-se, confortáveis, vou tentar levar-vos a viajar numa das maiores aventuras que ultrapassei até hoje.

Quinta feita, 15.00h, Briefing de prova, caras conhecidas, abraços com saudade, boa sorte a todos.
16.00h...

(Momentos de Briefing)


- Luísa, está na hora, vamos equipar!

(Momentos Antes da Partida)


Á semelhança do ano passado, adiei a hora de equipar ao máximo, pois é ai que me "cai a ficha", o equipamento, é como a armadura do guerreiro que vai para o campo de batalha. Depois de colocada, não há volta a dar, as mãos começam a suar, o peito aperta, o sentimento de ansiedade instala-se, tento  disfarçar o medo e a adrenalina que me corre nas veias com sorrisos e poucas palavras, mas é inevitável, aqui, a sensação, é de MEDO.

Tal e qual no ano passado, o mesmo sitio, a mesma hora, lá estava, o maior, o João Oliveira, desejei-lhe boa prova, tiramos a "foto da praxe", despedi-me dele e disse-lhe que nos encontrávamos no domingo em Castelo Branco.


(Foto da Praxe 2018 VS 2019)


Cada passada a caminho do pórtico de partida, fazia crescer a ânsia de partir, de começar, de correr, de aliviar, de gritar e retomar a calma, aí sim, começava a PT 281.

18.00h...

-Luísa, até já. Não tarda nada e estou em Castelo Branco.

Tudo regressou a sua calma normal, vamos correr.

Não vou entrar no ritmo de ninguém, não vou correr demais, não vou acelerar o passo uma única vez, quando chegar, cheguei. 

Esta primeira etapa, de Penamacor até Penha Garcia, tinha 40,7km, fáceis, ainda com a luz do final de dia, era um inicio de prova bastante simpático. Pelo km10/12 e já com os atletas  a assumirem cada um o seu ritmo, planeio a minha prova, chegar era obrigatório, carregava as costas o peso de um anel de casamento, essa iria ser a minha principal força para chegar ao fim. A meio desta etapa, o corpo não reage como esperado, sentia-me como se já tivesse 100km´s percorridos, isto ao km20, que rapidamente se agravou, deixei de conseguir correr, tinha dores estranhas em ambas as pernas, até que, ao km30, tive de parar, descansar, alongar. Era demasiado cedo, mas…não conseguia correr, fiquei triste e furioso ao mesmo tempo, o primeiro problema bateu á porta assim que a prova começou, fui ultrapassado por amigos, que se preocuparam em me encontrar parado naquela fase de percurso, expliquei que não seria nada demais, mas fui-me abaixo, tive de caminhar por um período demasiado grande para recuperar e conseguir voltar a correr.


(Estavam na entrada de uma capela, achei que se adequavam ao momento)

Quando vos digo que nestas provas se morre e renasce várias vezes, é disto que vos falo, nesta fase de prova, e com o problema que me surgiu, era fácil a decisão, DESISTIR, recusei-me a pensar nisso.
Abastecimento de Penha Garcia, o primeiro, arrancado a ferros, a PT tinha-se apresentado a mim sem demoras, ficou claro que tinha muito que trabalhar para chegar a Castelo Branco.

Ao entrar no abastecimento, alguém da organização pergunta em voz alta, "ALGUÉM PERDEU UM CORTA VENTO DA NIKE ROXO E AZUL?"

-E o meu mundo parou! Deitei a mão a mochila, o casaco não estava lá, o casaco, onde viajava o anel de noivado para a Luísa, eu tinha perdido o anel no caminho...Estava pronto para arrancar em sentido contrário, ia virar o mundo até achar aquele anel, mas…

-É MEU…

O Paulo Borges, olhou para mim com uns olhos que me disseram tudo, mas respondeu-me:

-Fica descansado, está lá tudo!

Afinal, a PT não estava a ser assim tão dura para mim, só me avisou, para que tivesse cuidado, que não estava adormecida.

Estava lá a minha Luísa, de sorriso de orelha a orelha, já tinha recebido noticias de que eu não iria chegar nas melhores condições, estava preocupada mas tinha tudo preparado para o pior dos cenários, e uma taça, uma pequenina taça, que me deu, juntamente com as palavras:

-A primeira etapa está concluída, agora segue, em Idanha tens um novo troféu a espera!

(A cada Abastecimento tinha direito a uma Taça)

Essa mulher não existe, tinha uma Taça, em ponto pequenino para me oferecer, por eu ter atingido a primeira base da prova, e prometia ter mais surpresas pelo caminho…
Ela sabe, ela sabe como se faz, ela sabe como manter-me a cabeça em prova, quando as coisas correm menos bem.

Deixo Penha Garcia, para rumar a Idanha a Nova, numa etapa fácil de apenas 35.63km, em que é fácil de correr, é aborrecida pelo pó extremamente fino que consegue até atravessar as meias e criar assaduras em todo o pé. Nesta etapa senti-me bem, lembrava-me do caminho, e queria ser breve, para sair o mais cedo possível para escapar ao calor que o dia nos ia trazer, fiz a totalidade da etapa sozinho, sem ver frontais nem na minha frente nem a retaguarda, era eu e a pista, o sono estava longe, mais um ponto a meu favor, a PT está a facilitar, aproveita agora. A chegar a Idanha, ligo para a Luísa, digo-lhe que não preciso de grade coisa naquela Base Vida, mas que quero trocar para roupa mais fresca, na chegada, tinha mais uma taça a minha espera e todo o meu arsenal montado, em Idanha, fiz uma paragem bem ao estilo Fórmula 1, enquanto trocava roupa a Luísa preparava-me uma massa e reenchia a minha mochila.



-Até já miúda…


Road to DeadValley, é aqui, nesta etapa, de 43.4km que se encontra o Vale da Morte, entramos nessa zona com cerca de 100 kms de prova, é aqui que começa a PT281, ou te fazes grande, ou a tua meta fica em Lentiscais, o caminho é fácil, mas há que ter muita, muita calma, um passo em falso e a prova ganha. 
Erro de maçarico, ao km100, e a 22km do abastecimento resta-me meio litro de água...
Levava 16h58min de prova e 100km percorridos, tinha 3 horas de vantagem sobre o planeado, não sabia se isso era bom ou não, mas...
A água aqueceu, e era de menos, o corpo estava a acusar os primeiros sinais de desidratação, deixei de conseguir comer, bebia golinhos muito pequenos para nunca ficar sem água, passei um mau bocado, mas o erro era meu, sabia que estava prestes a "morrer" novamente, só já pensava em como me reerguer de mais um embate…


(Km128, aproveitava a sombra de uma azinheira. Foto: Paulo Borges)

A 5 km do abastecimento, está um carro de apoio da organização, com água fresquinha, podia ter sido a minha salvação, se o corpo não estivesse já a rejeitar todos os sólidos e líquidos, só queria chegar a Base Vida, para descansar, arrefecer o corpo e só depois tentar comer.

Lentiscais, a primeira Base a sério da prova, a prioridade aqui era tomar duche, equipar bem, alimentar melhor, tentar dormir um pouco, pois a seguir, vinha a segunda noite da prova...

(Chegada a Lentiscais, o momento mais perigoso de prova)


Não conseguia comer, nada, forcei o estomago ao máximo, não vou entrar em pormenores, mas deitei tudo fora, solido, liquido, tinha o estomago como um trampolim. Ali estava a equipa médica a prestar apoio, foram os meus anjos da guarda, perderam todo o tempo necessário para me por no sitio novamente. Dormi 30 minutos, tentei comer novamente e estava em maus lençóis, sem comida e água, nunca chegaria ao próximo PAC, a Luísa estava preocupada, tudo fazia para que eu conseguisse pelo menos hidratar.

Após uma hora no PAC, e sempre com assistência médica por perto, o corpo recompõe-se, reforço a mochila com comida para algum imprevisto e saio pelo fim de tarde, sabia que iria alcançar a próxima base já de noite, e ter de passar pelo troço onde o ano passado tive o pior cenário de alucinações da minha vida, mas levava a cabeça limpa, ia descansado e pronto a dormir onde fosse necessário, inclusive na rua.

(Foto: João Delgado)

Seguia para Vila Velha de Rodão a 30.8km de distância, uma etapa intermedia em termos de distância mas difícil pelo piso em que decorre que na sua grande maioria é de pedra solta, diz-se que quem alcança Vila Velha, é Finisher da PT, pois Vila Velha é o km150, ali, já custa "deitar fora" tudo o que se alcançou, mas eu gosto de pensar, que ali, ali, começa a capacidade de gestão de cada um, um erro a seguir a vila Velha, e já foste.

Foi uma etapa, razoavelmente fácil até lá, comparativamente ao ano passado, mas ainda assim, o sono comandava as sapatilhas, os tropeços eram muitos, demais, seguia com o Serginho e o Filipe Conceição, estava bem acompanhado, sentia segurança. neste troço, sem perceber bem porque, dei por mim a fazer pequenos troços de corrida para poder "dormitar" uns minutos, a estratégia era fácil, arrancava a um ritmo mais elevado que os meus colegas, mantinha-o por 10/15 minutos e deitava-me onde fosse, quando eles me alcançavam, chamavam-me e eu seguia com eles, até fazer uma nova arrancada, não me perguntem porque, mas o sono era demais, o corpo é que estava  a mandar.

Vila Velha de Rodão, "madrasta", havia gente a desistir por ali, novamente, Vila Velha, era o auge das desistências . Optei por descansar uns 20 minutos neste abastecimento, estava a ficar com muito muito sono, e ia ser uma etapa a sério o que se adivinhava.

(Abastecimento Vila Velha. Até um saco faz de cobertor)


Comi bem, a noite era fria, acabei por sair bem abrigado rumo a Montes Da  Senhora, seria uma etapa de 28.3km com 1203m D+, não tenho muito para vos contar sobre esta etapa, pois, NÃO ME LEMBRO DE A FAZER. 
Tal e qual o ano passado, de Vila Velha para a frente, lembro-me de muito pouco, recordo o abastecimento, estava a CHOVER, não dormi aqui, comi uns, PRESTEM ATENÇÃO, ovos cozidos, com atum, com carne picada, com massa, isto tudo, dentro de uma sandes 😆😆😆😆

Vesti um casaco de água e fiz-me a estrada, conhecia a serra daqui para a frente, era a terceira vez que corria junto do parque eólico de Oleiros, passado uma hora de deixar o abastecimento, esta um calor infernal, tiro a roupa de chuva e carrego mais ainda a mochila que já ia bem pesada, mas seguia motivado, quem chega a Oleiros, sente o sabor do "ultimo" abastecimento, este troço, decorre na sua maioria em terreno serrano, muito difícil para quem leva um bom par de horas e kms percorridos, mas existe um abastecimento intermedio, oferecido pela população que nos conforta a alma, cheguei sozinho a esse ponto, lembro-me de chegar a garagem onde esse abastecimento se encontra, estavam, dois Puff´s no chão, literalmente mergulhei para cima de um deles e ali fiquei, ia em brasa, completamente esgotado, recuperei 5 minutos, bebi uma coca cola fresca, reabasteci de agua fresca, e foi quando uma senhora de idade se aproxima e pergunta:

 "-menino, porque é que faz uma coisa destas?"

-"Sabe senhora, isto dá-me vida"

(O momento ficou registado pela lente do Ruben Fueyo)


E naquele rosto cansado, naquela aldeia velha, percebi, que as gentes gostam de nós, que anseiam a nossa passagem, que somos, os visitantes anuais, de um povo esquecido, que se preocupam com quem ali passa.

(Arrefecimento do Motor)

Hora de me fazer ao caminho, daqui para a frente, uma subida de mais de 6 horas até ao ponto mais alto, do parque eólico, o cansaço aproveitou-se de mim, uma má leitura do Gps coloca-me fora de rota, PERDI-ME.

 "- Deve ser por aqui, mais ou menos!"

 Não era bem, nem por ali, nem lá perto, olhava para o Gps e não conseguia sequer voltar ao sitio onde tinha saído do percurso, estava demasiado cansado, os olhos já não viam.

Entre sobe e desce e arrisca, perdi 4 horas, estava em desespero, já estava a fazer bichos na minha cabeça, achava mesmo que a noite ia chegar e não ia sair dali a tempo, restou-me uma saída, o botão de SOS, de nada me valeu, o sinal chegou lá, mas estava sem bateria no telemóvel, incontactável, só deixei a equipa de socorro ainda mais atrapalhada, agora, depois de ver o percurso, percebi que rodei no sentido inverso a prova, subi em linha reta a uma antena eólica erradamente, estava de facto muito longe do percurso, optei por em linha reta na mesma alcançar o topo da serra para me tentar localizar. ao chegar ao topo, vejo o atleta mexicano que seguia atras de mim um bom par de horas…


- EL CHAPOOOOOOOO, espera por mim 😅😅😅

(O "El Chapo" da Pt281+ Ultramarathon)

Foi a minha salvação, o Gps dele funcionava bem melhor que o meu, mas as pernas não, assim que percebi onde estava e ao encontrar um carro de apoio, pergunto se o caminho é igual ao ano passado, disseram que sim, este tempo perdido, custou-me tempo, empurrou-me contra a barreira horária, novamente, a chegar a Oleiros, tal como em 2018, estava a beira de ser barrado por uma barreira horária, arranjo forças onde não há e saio do cume, serra abaixo a correr que nem um louco para chegar a horas, cruzo-me mais duas vezes com o carro da organização que me dá indicações por ode devo seguir sem me perder para alcançar a próxima base vida.

(Subida ao Parque eólico)

Entro na base.....e.....cuidado, ia furioso, comigo, com a prova, com o percurso, com a falta de descanso, com o desespero, com tudo, e é aqui, que as nossas equipas de apoio sofrem connosco, falamos mal, descarregamos em quem menos devíamos, mas é mesmo assim, são as horas e a falta de descanso leva-nos a racionalizar muito mal, a minha senhora sabe como se faz, esta farta de ver o cenário, deixa-me "espernear" a vontade, e manda-me cagar. 😂😂😂

Odeio que me peçam calma nessa altura, e aparece o Matias Novo, um dos fotógrafos de prova, e com um grande sorriso, cheio de boa disposição e diz, "Tem calma" 😁😁😁

O Pedro, o coordenador de segurança, está cansado de ver tipos como eu, perdidos, desorientados nas provas, não me ligou muito, mandou-me tomar banho e logo decidia o que queria fazer, sabe que por vezes o menos é mais.

Banho, resfriar ideias, comer, beber, voluntários de sonho, amigos, atentos e sempre dispostos a ajudar em tudo o que precisamos, uma equipa médica de luxo.
Transmitem-nos segurança, gastam das forças deles para nós nunca perdermos as nossas.
Deixo Oleiros, a 2 minutos do corte horário, era Finisher, mas ainda faltavam 62km até Castelo Branco, e teríamos de Ultrapassar mais uma noite que se preparava para ser fria e dura, até ao último abastecimento tinha  38.1km e 1300m D+, era obra.


Saio de dia de Oleiros, pelas 19.00h, ali o tempo passa rápido demais, a noite chega muito rápido e com ela…

Estão preparados?

Hipopótamos na Beira Baixa, isto não me pode estar a acontecer. No ano passado um festival de luzes, mas hipopótamos?

Parei, decidi dormir 20 minutos numa localidade por onde passava, a vila estava em festa, havia uma paragem de autocarro por ali, senti-me seguro, embrulhei-me na manta de sobrevivência e meti o despertador dali a 20 minutos, acho que demorei 1 segundo a adormecer.

Quando acordei, tentei concentrar-me, ia deixar para trás a ultima localidade até ao próximo PAC, sabia que os hipopótamos não passavam de alucinações provocadas pela privação de sono, teria de lidar com elas da melhor maneira sem nunca deixar que me ganhassem, mas era inevitável, em certos momentos cheguei mesmo a ter medo, a desviar-me do caminho, para me desviar deles, sinto mesmo que os cheguei a ouvir. Nunca perdi a calma, sempre tive consciente de que não passavam de alucinações, mas ainda assim, o medo estava instalado, só queria que o dia nascesse novamente para que tudo passasse.

chegada a Sarzedas, ultima base vida, gritasse vitoria, quem nos espera, sabe o desfecho, SO SE PARA EM CASTELOBRANCO.

Aqui, a Luísa, cansada, de 3 dias mal dormidos, mal comidos, de muito stress e dedicação, para que nada me faltasse, estava equipada, pronta a arrancar comigo, a organização permite os atletas serem acompanhados nos últimos 24 km´s de prova, quem acompanha não pode prestar qualquer auxilio nem carregar qualquer tipo de material, apenas estar ali, a sofrer por ver sofrer.

(Ultimo Troço. Foto Matias Novo)


Eu, que a 3 dias carregava nas costas a responsabilidade, a minha gasolina, para chegar a meta, o anel, o magico anel, com que esperava selar e arrancar para a maior ultramaratona das nossas vidas, corria ofegante com pressa de chegar, de ver as caras que tinha deixado partir a 3 dias, felicitar os que chegaram, consolar os que adiaram o sonho.

A 5 km´s de Castelo Branco, deixei a Luísa seguir mais para a frente numa zona onde o Matias Novo registava momentos e disse-lhe, trago as costas um anel, vou pedir a minha mulher em casamento, podes tirar uma fotografia?

(Fotografia João Delgado)


E a palavra espalhou-se, na chegada a Castelo Branco, ao topo do Castelo Albicastrense, de maquina em punho, os fotógrafos esperavam o que era o auge da minha prova, o Castelo e a Luísa.

As dores desapareceram, o peso da mochila aliviou, a PT281, a segunda PT281, estava concluída, com grande dificuldade novamente, não sei se mais se menos, diferente. Percebi, que nunca estarei efetivamente preparado para terminar aquela prova, talvez esteja sempre pronto para a enfrentar, mas nunca para a terminar a vontade.

Lá no alto, sobre o olhar de quem já tinha chegado.


- a segunda vez que termino uma das maiores ultramaratonas do mundo, estou preparado para quase tudo, mas preciso de ti. Preciso de saber se estás disposta a ajudar-me a arrancar na maior ultra maratona das nossas vida?
A custo, muito custo, o joelho chegou ao chão, e ali selamos o que certamente será a prova das nossas vidas.




Ela disse que sim.




A pt281, estava, após todos os tropeços, todas as lagrimas, todos os momentos de angustia, toda a alegria, finalmente terminada.


Festejei com os amigos, alguns deles quase família.

A PT mais uma vez, teve a capacidade de me fazer viajar, de me fazer crescer, de fazer de mim uma pessoa melhor, a PT é invulgar, tem a capacidade de nos transportar ao nosso intimo, de nos baralhar as ideias. Mas tem a capacidade de fazer crescer em nós amor e muito, muito respeito pela vida.

Obrigado Pt 281+ Ultramarathon, até para o ano ❤

domingo, 21 de julho de 2019

Ultra Trail Douro Paiva SkyRunning

Tinha duas respostas.

Para duas perguntas, que o Speaker não se atreveu a fazer…

Mas já lá vamos, agora, vamos ao purgatório!

Montemuro é isto, é aquilo, é o outro, o diabo a sete, quem lá vai, não vem o mesmo, dizem ter a capacidade de te engolir, mastigar, e quando nada de ti sobrar, deitar-te fora.

Então vamos a isso, vou começar já com os bastões abertos, aqui pelo gráfico isto começa a subir.

06.00h da manhã, fresquinha, mas que apontava para um dia de torradeira, passado numa serra despida de vegetação, forrada a pedra, disforme.

A saída da vila, é fácil, mas todos queriam correr muito, e depressa, não percebi bem porque, fiz os primeiros 3 ou 4 km´s no "Cú da coisa", até ouvir falar em barreiras horárias apertadas, bem como os single track´s em que a prova se desenrolava, comecei a achar as barreiras horárias curtas também, mas havia de surgir a oportunidade de correr e aproveitar para ganhar tempo.

Uma ribeira, gelada, pelas 07.00h da manhã, com um caudal, que colocava os C...ões* de qualquer atleta com 1.80 m de molho, ESPETACULO, não era para atravessar, era mesmo para percorrer 1km serra acima dentro da ribeira, até os pés deixarem de se sentir e as cãibras chegarem a barriga, "estes gajos são maus"! 

Havia ali um abastecimento o km 11.5, mas ou ia a dormir ou tão depressa que passei e nem o vi, mas sem problema, o que não faltavam era povoações habitadas na sua maioria por vacas e galinhas, seguramente me desenrascavam uma pinga de água em momento de aperto, ao fim ao cabo o abastecimento seguinte seria logo ao km 16, após uma P##A** duma subida esmagadora, além ao longe vê-se uma tenda da Redbul, seguramente foi a voar, pois ali, naquele sitio, só a pé ou de vaca lá se chegava…

Erro brutal, laranja, mel e 3 latas de redbull 😅😅😅 como se nunca tivesse bebido daquilo, e sabendo o mal que me faz, mas estava fresquinho. Saído do abastecimento, tínhamos uma pequena ascensão que nos colocava acima do nível das nuvens e em seguida nos mandava serra abaixo durante 9 km´s em direção ao próximo abastecimento, aproveitei que ainda tinha o gostinho do redbull na boca para acelerar um bocadinho, e a descer…. Laranja, mel e redbull, imaginem tudo numa panela de pressão, só que aos trambolhões, isso mesmo, era assim que ia a minha barriga, para baixar fervura, mais agua para dentro do estomago 😅




A coisa ia-se a fazer, ainda não tinha sido ultrapassado por ninguém, e já tinha ultrapassado uma boa mão cheia de Walker´s que por ali andavam, sabia o fim daquilo, ia ser a laranja e o redbull em cima dos ténis, mãos nos joelhos, e ser ultrapassado por este mundo e pelo outro, sempre acompanhado pela célebre frase: "Está tudo bem? Precisas de alguma coisa? Então até já!"

Mas não, aquela "michelania" dá a volta a barriga mas ajuda, ora ai está, com as unhas dos pés a gritar socorro, entro no abastecimento de Bustelo, havia lá mais redbull, mas decidi deixar para quem viesse atrás, não queria perder muito tempo ali, sentia-me bem, queria progredir mais depressa, ia em direção a Tendais, que supostamente ficavam a 9km dali, com uma ascensão no caminho que fazia mandar a toalha ao chão qualquer bom atleta, o percurso nesta fase era fácil, muito desnível para ultrapassar, mas na sua maioria sempre em estradas de fácil piso. Os 9 km´s passaram e o abastecimento, nem vê-lo, nem a água nos bidons de via, a coisa estava a doer de verdade, 10, 11, 12, será que passei mesmo pelo abastecimento sem o ver? Não, encontrei um outro atleta, que também vinha a rezar a mesma oração que eu, Cab##es, Filhos da P##A, percebi logo que o abastecimento havia de aparecer mais tarde ou mais cedo 😂😂😂

De 9, foram 14, doeram…

(Foto Susana Luzir)

Bem, daqui até as Portas de Montemuro são 17km´s? DE CERTEZA???

Vejam lá…

Aqui, foi o desastre na terra, estava bem, tinha força, queria correr, mas o piso não deixava, era pedra plantada atrás de pedra, progredia o mais depressa que conseguia, mesmo mal, percebi que chegava para continuar a ganhar posições, a serra tinha esmagado os que por lá sobravam, metade, aqui, já tinham desistido…

Cá vamos nós outra vez, 18, 19....

Uma meia maratona, sem água nos últimos 4 km´s, não se faz, é Bárbaro.

No abastecimento, salvava-se a cara das voluntárias, que rapidamente diziam, somos só voluntárias 😂😂😂

Nem para discutir servem nesse caso, mas não têm culpa, com uma fatia de melancia e uma agua fresquinha e estão perdoadas, mas olhem, vai haver mais surpresas???

- Não, não!

Só uma cauda de prova DEMOLIDORA, aqui, nesta fase de prova, ligo a minha senhora, que por falta de um dos objetos obrigatórios no kit foi impedida de entrar na manga de partida, a dizer que ia demorar. E ai, nasce uma alma nova, quando ao telemóvel me diz que ainda só chegou um atleta do meu escalão, OPAAAAAA, quais dores qual quê, eu queria era chegar a meta depressa e trazer uma "merda" qualquer para casa para festejar aquela sova que estava a levar 😂

(Foto Matias Novo)

Tinha duas respostas.

Para duas perguntas, que o Speaker não se atreveu a fazer…

Couvelas, a supostamente 8 km da meta, havia lá uma massinha sobrada do almoço de alguém, que me soube como se tivesse sido feita para mim, pena estar á mesma temperatura da água da ribeira. A pisar mal e a dizer mal a vida, mas com umas ganas de correr brutais, preparo-me para sair, quando:

"Opa, a andar assim não sei se chegas lá a horas, esse bocado é muito duro, vê se não é melhor ficares aqui!!!"

- Já acabaste a prova?

-"Não, desisti aqui, mas estive cá o ano passado e sei o que falta"

-Então treina, para o ano que vem ver se chegas ao fim, saúde 💪💪💪

O gajo tinha razão, sensato teria sido ficar ali 😂😂😂 mas vamos embora, este troço da prova é LINDO, muito duro, exige forças que já não há,e amplitudes que já ninguém alcança ali, sempre junto a uma ribeira de água translucida, e é o fim, o fim custa sempre menos. Sabia que ainda havia um abastecimento antes da meta, não tinha intenção de parar.

Mas havia "Arroz de Aba", lamentavelmente á mesma temperatura também da água da ribeira, mas era melhor que nada, falavam-se nuns últimos 3 km sempre a subir, havia que ter forças.

Saio sem perder muito tempo, tentava apanhar dois atletas que tinham saído do abastecimento quando eu cheguei, a meio de uma subida ingreme, ao cruzar-me com uma senhora de idade que por ali passeava um cão com cornos, faço-lhe a pergunta proibida.

"Ainda falta muito para Cinfães?"

-SIMMMMMMM

"E é a subir?"

- É sempre a trepar menino!

😧😧😧

2.7km, sem assentar calcanhar no chão, Ei-la, a vila, de Cinfães.

Abre passo, voa até a meta.



2º Classificado Esc. Sen. Masculino

79.97km
4400mD+
12.57h 

De uma festa do caraças.


Tinha duas respostas.


Para duas perguntas, que o Speaker não se atreveu a fazer…

Supostamente a minha chegada, estava prevista assim:

Speaker: - Então o que é que achou da prova?

#NOSVAMOSLAESTAR: - FILHA da Puta!

Speaker: - E do percurso, o que achou do percurso?

#NOSVAMOSLAESTAR: - FILHO da Puta!

Obrigado UTDP

#NOSVAMOSLAESTAR









terça-feira, 9 de julho de 2019

Only About Shoes

O meu primeiro artigo "Des"Cientifico.




Estou em casa, desocupado, com mais tempo para navegar na web e permitir-me ser envenenado por uma mão cheia de cientistas, Licenciados em Podologia Forense, pela Universidade Estatal da África do Sul…

Malta, o tema a abordar, são sapatilhas, a minha praia, pois, devo ser um "devorador" de sapatilhas, para terem noção, em 2018, precisamente 13 pares de sapatilhas, nenhumas delas, de marcas marteladas. Entenda-se por marteladas, Kalenji "os pés" e Crivit"ão" fricção.

Bem, não vamos mencionar marcas, se não acabo com um problema de suspensão do Blogue e isso não seria bonito.

Como escolher as sapatilhas mais adequadas para pratica da modalidade, vou fugir do "nome" atletismo e utilizar apenas, o Trail Running e a Estrada, para facilitar a compreensão.

As marcas, hoje em dia vendem-nos as sapatilhas baseadas na imagem de grandes atletas e embaixadores, que fazendo bem o seu papel, com umas sapatilhas Grátis, vão fazer a prova X ou Y e chegam lá, ganham fácil, e bumbas, toca a publicitar isto, e nós, felizes por saber que existe ali uma sapatilha com menos 10 gramas que as nossas actuais e com um poder mega-ultra-super-grip, que agarra até em cima de manteiga, recorremos as nossas melhores poupanças, damos o braço a torcer, e bumbas, mais uma discussão com a mulher e chegam umas sapatilhas novas de 120€, muito bonitas, de cores berrantes, super ultra-sonicas que a única coisa que nos fazem melhorar é o ego no primeiro treino entre amigos, porque depois de passarem por uma poça de lama, jamais serão as melhores sapatilhas de sempre.

Sapatilhas de Trail Runnig, Pataus, como eu gosto de lhes chamar:

Primeiro, teremos de saber se aquela sapatilha bonita, é de facto para correr 100km´s, ou mais, pois provavelmente, se são muito bonitas, nem devem ser de Trail.

O tamanho, sendo as sapatilhas para mim a peça mais pessoal nesta modalidade, recomendo que EXPERIMENTEM sempre antes de comprar, eu assim de caras, recomendo sempre, uma sapatilha com mais 8 mm de comprimento, do que o comprimento total do vosso pé, mas, ATENÇÃO. Eu tenho sapatilhas com mais 12mm, sobre o comprimento total do meu pé, já me adaptei  e prefiro jogar pelo seguro, isto sempre baseado nas distâncias que pretendo fazer.
Tomem nota e aprendam a comprar as sapatilhas de corrida em centímetros, pois de entre marcas, o tamanho europeu "EU", pode ter diferentes medidas quando aferidas em centímetros.

O Drop da sapatilha. O QUE É ISSO? 

Em bom Português, o Drop não é nada mais que a diferença de altura na sola do sapato da zona do calcanhar, para a zona plantar.

Exemplo:

- Altura do calcanhar do sapato 18mm;
- Altura da zona plantar do sapato 10mm;
-Conclusão, drop total de 8mm;

Agora que já sabem o que é isso do Drop da sapatilha, nem por acaso, 8mm, é o que recomendo a todos os atletas e amigos que a mim se dirigem, pelo menos numa fase mais inicial da corrida, isto nas sapatilhas de Trail, pois acho ser o mais "confortável" para a maioria das pessoas, existem exceções, claro.

Resumo, queres umas sapatilhas de Trail:

1º-Experimenta, sempre que possível;
2º- Procura adquirir uma sapatilha com um comprimento ligeiramente superior ao tamanho do teu pé;
3º- Faz o que eu digo, não faças o que eu faço, mas arrisca nos 8mm de Drop;

Marcas de Sapatilhas.

Aqui neste ramo, e sabendo que é um mundo perigoso, vou ser curto nas palavras, não vá um dia a Salomon ou a Hoka recusarem-me um patrocínio de 20000€ anuais por eu dizer mal das sapatilhas deles aqui 😂😂😂

A Salomon e a Hoka DE TRAIL, estão na mira da maioria dos atletas, porque?

Porque viajam nos pés dos melhores e mais rápidos atletas de todo o mundo.

E são muito boas, aliás, talvez as melhores do mercado, isto é, se tiveres 130/140€ para gastar de 45 em 45 dias, ou se fores um daqueles nabos que treina com umas sapatilhas todas rotas de 50€ e tem no armário uma destas sapatilhas para levar apenas á prova e fazeres um figurão com aquela perneira rosa choque que utilizas nem sabes bem para quê, ah, e acabas em 150 e tal da tabela….

Pois, como eu gosto de lhe chamar, são sapatilhas de alta performance, desenhadas para correr distâncias de 100km´s, mas em 10 HORAS, 11 ou 12, NO MÁXIMO, não são para ti, que vais fazer esses mesmos 100km´s em 24 horas ou mais, SÃO BOAS, ALIÁS, MUITO BOAS, mas dentro dos parâmetros de utilização que a marca recomenda.

Percebem a diferença agora?

Boa, AINDA BEM QUE NÃO!!!

Agora, o que é que eu vos recomendo?

Só espero que isto chegue ás mãos certas e eu ainda venha a assinar um contrato com a marca que me permita receber umas sapatilhas de GRAÇA, ou duas 😎

La Sportiva, Scott "UltraRC" Só.

São mais pesadas que a maioria, até nem são tão "Tchadã", é difícil arranjar uma roupinha que faça jeito com uma sapatilha destas, mas percebam, aqui existem várias vantagens;

-Conforto;
-Segurança;
-DURABILIDADE;

E não têm de hipotecar a casa, pois com um par ou dois, fazem o campeonato sempre com umas sapatilhas com bom aspecto, e CONFORTÁVEIS.

O que é que está no topo das minhas escolhas?

La Sportiva Akasha

-São bastante confortáveis no pé, têm uma boa base de suporte na zona plantar, onde o pé não fica apertado e os dedos não precisam de subir uns para cima dos outros.
São pesadas, são, ligeiramente acima da média, mas se querem conforto, aprendam a abdicar do lugar 151 na tabela da prova pelo 152;
Escolham uma cor mais clara, os tecidos superiores para lhe oferecerem mais alguma robustez tornam-se ligeiramente mais quentes, evitável com uma cor mais clara;

Scott Ultra RC

-Primeiro, são bonitas que dói 😍😍😍
Têm uma sola, que se agarra até em cima de manteiga, as malhas superiores requerem algum carinho para se fazerem ao pé, e o tamanho da sapatilha tem de ser bem escolhido, pois aqui existem algumas diferenças, não se deixem enganar.
Também não são "peso-pluma", mas lá está, querem conforto, habituem-se a ficar em 152 da tabela.

Já é tarde, não vou falar de sapatilhas de estrada, fica para outro dia, de qualquer das formas já arranjei aqui discussão para um par de semana.

Se precisarem de ajuda, não hesitem em mandar mensagem para a página do #NOSVAMOSLAESTAR no Facebook.

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Boas corridas

#NOSVAMOSLAESTAR






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